domingo, 11 de dezembro de 2011

Utility Clothing Scheme x New Look

Segunda Guerra Mundial. As consequentes dificuldades impostas pelo fim da Guerra também são refletidas nas vestimentas da época. Em 1941, a câmera britânica de comércio aprova o Utility Clothing Scheme, projeto que visava controlar o mercado de roupas. No ano seguinte, um manual de produção para o vestuário civil foi aprovado. Estava, então, estabelecido: a limitação no uso de botões e bolsos e o número fixo de pregas para saias. 


Fonte: http://www.kirkbymalham.info/KMLHG/war/utility.html

1947: Christian Dior estreia o New Look, um estilo totalmente diferente do Utilitarismo. Saias longas e amplas, cintura afunilada, ombros levemente caídos, o novo estilo era basicamente um clamor ao passado, omitindo aquela situação marcada pelo horror da guerra. O estilo ultrafeminino imperava novamente (ainda que o Utilitarismo tenha existido até depois da Segunda Guerra) e muitas mulheres aderiram à moda de Dior.

Fonte: http://almanaque.folha.uol.com.br/christiandior.htm#
O New Look e, consequentemente, seu criador foram vítimas de protestos massivos. Não era pra menos: em uma época marcada por racionamentos e privações, Dior utilizava cerca de 20 metros de tecido em cada nova criação. Mas o look resistiu e, em 1997, até a boneca Barbie - a mais vendida no mundo - foi vestida com a criação de Christian Dior. Luvas, salto alto e chapeu completavam o visual ultrafeminino. 




sábado, 10 de dezembro de 2011

A Moda enquanto Arte.

"A moda é uma arte?" - Esta é uma das perguntas que a filosofa e socióloga Gilda de Mello e Souza faz em seu livro O Espírito das Roupas (obra que deu inspiração ao meu blog). Através de uma série de argumentos e análises, a autora acaba defendendo, sim, a moda como arte:


[...] para que a vestimenta exista como arte é necessário que entre ela e a pessoa humana se estabeleça aquele elo de identidade e concordância que é a essência da elegância. Recompondo-se a cada momento, jogando com o imprevisto, dependendo do gesto, é a moda a mais viva, a mais humana das artes. (p. 41)

Comparando quadro e vestimenta, Gilda defende que o primeiro, emoldurado, faz-se exterior às nossas ações, enquanto as roupas só se completam com os corpos humanos, com as nossas alterações e interferências - não há moldura que nos impeça! Gilda ainda afirma: "Como qualquer artista o criador de modas inscreve-se dentro do mundo das Formas. E, portanto, dentro da Arte". 

Quando compara Moda e Arquitetura, a autora estabelece a seguinte relação:


O advento da era industrial não destruirá a correspondência [entre moda e arquitetura] e o século XIX irá explorar a forma cilíndrica. Os temas invariáveis do industrialismo, abóbodas, túneis, reservatórios de gás, chaminés de fábricas, imprimem-se no subconsciente e o homem também se torna cilíndrico, com suas calças, cartola e sobrecasaca.  (p. 34)


                                                
A moda também pode e interferiu no trabalho do pintor, como sugeriu Gilda: se em outras épocas o corpo nu fora objeto de inspiração, em outros momentos o "corpo artificial", coberto por vestimentas foi o que interessou tal criador.

Baile de Núpcias do Duque de Joyeuse (1581) 

Cunnington, estudioso da sociedade inglesa, afirma que a moda está intimamente ligada aos princípios morais e ressalta a interferência da religião nos costumes. Durante muitos anos, as curvas e contornos do corpo foram "camuflados" por panos e mais panos: enchimentos, mangas bufantes, entre outros artifícios. A diferenciação entre as vestimentas masculinas e femininas só acontece por volta do século XIV, e Cunnington sugere o motivo para tal mudança: relaxamento do domínio da Igreja - tão presente durante a Idade Média - e libertação das mulheres "que, começando a ter direito na escolha do companheiro, interessam-se cada vez mais pelos elementos de atração sexual". (p. 45)

Por fim, a autora estabelece uma relação bastante interessante entre o século XIX e novo jeito de se vestir - um jeito mais solto, que permite movimentos. 

O século XIX, trazendo as profissões liberais, a democracia, a emancipação das mulheres e a difusão dos esportes, completará as metamorfoses sociais que fizeram o traje hirto dos séculos anteriores desabrochar na estrutura movediça de hoje em dia. (p.50)

Antes de chegar aí, Gilda comenta sobre a importância da vestimenta na diferenciação social. A roupa incômoda, que impedia o movimentar dos membros superiores, por exemplo, exprimia uma prerrogativa de classe e uma rica ornamentação. 

Algumas marcas da distinção social relacionadas aos tipos de indumentária:
No édito de Henrique II, em 1549, vemos que "apenas os príncipes e as princesas podem vestir-se de carmesim; os gentis-homens e suas esposas só tem o direito de utilizar essa cor nas peças mais escondidas; às mulheres da classe média só é permitido o uso de veludo nas costas ou nas mangas; aos maridos, proíbe-se o seu emprego nas vestes superiores, a não ser que as inferiores sejam de pano; às pessoas que se dedicam aos ofícios e aos habitantes do campo, a seda é interdita, mesmo como acessório". (p.47)

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SOUZA, Gilda de Mello e. O Espírito das Roupas: A moda no século dezenove. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.

sábado, 26 de novembro de 2011

Mairi Mackenzie

A moda constitui um espelho das sociedades nas quais ela existe. Seja como fenômeno cultural, seja como negócio altamente complexo, reflete as atitudes sociais, econômicas e políticas de seu tempo.
Diferentemente das vestimentas étnicas ou cerimoniais, a moda caracteriza-se pela mudança contínua e inexorável. Está sempre evoluindo, guiada não pela necessidade, mas por um intricado sistema no qual a distinção social, novidades nas indumentárias e considerações econômicas compelem à mudança. Isso não significa, porém, que a moda seja uma frivolidade impulsionada por um sistema econômico amoral e mergulhado na vaidade. Tampouco se pode dizer que ela influencia somente aqueles que escolhem participar dela.
O estudo da moda é inclusivo. Não se limita ao mundo seleto da alta-costura, das grifes de estilistas, de revistas luxuosas. As complexas questões econômicas, políticas e culturais associadas à produção e ao consumo de modismos causam impacto em todos os setores da sociedade. Avanços na produção de vestuário foram catalisadores da industrialização, para a urbanização e para a globalização que vem definindo a era moderna. Da mesma forma, a moda está integrada à construção e à comunicação das identidades sociais, ajudando a delinear a classe, a sexualidade, a idade e a etnia de quem a usa, além de expressar as preferências culturais individuais. Os avanços na moda, bem como as frequentemente radicais reações públicas a eles, sinalizaram e ajudaram a abordar (e até a erradicar) preconceitos arraigados contra mulheres, comunidades gays e lésbicas, jovens, minorias étnicas e classes trabalhadoras. [...]

MACKENZIE, Mairi. ...ISMOS: para entender a moda. Editora Globo, p. 06.